“No Tabor, transfigurados, para irradiar a luz de Cristo!”

Quando leio o Evangelho, gosto de usar aquele recomendado recurso de imaginar a cena, o ambiente, as personagens, as ações e as posturas de Jesus, em cada narrativa. O relato da transfiguração do Senhor (cf. Lc 9,28b-36) sempre me despertou uma especial atenção. Pensava no impacto que Pedro, Tiago e João teriam sentido ao contemplarem, diante deles, Jesus, que irradiava uma luz tão incrível, acompanhado de Elias e Moisés. O próprio evangelista conta que o espanto dos discípulos se transformou em medo, quando eles se aperceberam envolvidos pela nuvem. Segundo São Lucas, os três ficaram calados, depois de tudo o que viram, ouviram e experimentaram.


Certo dia, Deus me deu a oportunidade de subir o Monte Tabor. Nem na minha mais rica imaginação, pude pensar que o alto daquele monte descortinaria um horizonte tão vasto, tão amplo, tão bonito. Absorto pela paisagem, cheguei a pensar que só essa contemplação teria compensado enfrentar o caminho sinuoso da subida. Porém, ao ingressar no Santuário ali erigido, acomodei-me num canto, sozinho; coloquei-me em oração e, simplesmente, fiquei olhando para o mosaico, na abside do presbitério da Igreja.

 
Aquela imagem, naquela paisagem, com todo o significado desta cena, tocou de um modo tão profundo meu coração que, além de chorar, eu não conseguia fazer mais nada. Creio que tenha sentido um pouco do que os três discípulos vivenciaram. “Será que já morremos?”: certamente, essa dúvida pairou na mente de Pedro, Tiago e João. Também, cheguei a pensar que já não estava mais por aqui. Para além das lágrimas e do desejo de permanecer ali, restou-me o silêncio que reza.


Assim, consegui entender ainda melhor o que se passou no Tabor. Compreendi que a subida ao Tabor é extasiante, porém, ela é uma etapa, para que a missão de Jesus seja continuada, com a força daquela luz que só Ele pode manifestar. Que a contemplação e celebração da transfiguração do Senhor sejam um convite para nos deixarmos iluminar por Ele e irradiar, no nosso dia a dia, tendo descido do monte, a luz de seu amor e de sua bondade.

 


Padre Carlos Henrique Machado de Paiva

Paróquia Santa Rita – Boa Esperança/MG